Vocês já confiaram em uma pessoa a ponto de deixar suas vidas nas mãos da pessoa que confiam? Mesmo que nunca viram esta pessoa, mas sabem que podem confiar nela, pois já ouviram falar dos seus feito



Um exemplo dessa confiança é depositada a um motorista de ónibus. Nunca o vimos, mas confiamos em seu profissionalismo. Um motorista de táxi. Nunca o vimos, mas temos quase certeza que não haverá um acidente com ele quando estamos dentro de seu carro.
É, pois é. Eu levei o maior tombaço com uma GSX 750 F, do aluno que depositou fé em mim, deixando sua "magrelinha" em minhas mãos, em um curso individual/personalizado, há uma semana atrás. O mais grave disso tudo foi que a confiança dele em mim foi a tal ponto que este aluno estava em minha garupa quando fomos ao chão. Mais incrível ainda, que este aluno foi de uma humildade tão grande, que não reclamou, e continuou o curso comigo.
Joel Stucchi, este artigo é em sua homenagem, e também a todos que andaram em minha garupa nos cursos afora que ministrei.
Mas onde foi que errei?
Bem. No começo do curso sempre analiso alguns aspectos técnicos da moto. O primeiro aspecto é o conceito da moto, ou seja, se a moto é esportiva, naked, street, on-off road, etc. Qual é o objetivo dos projetistas da moto para o uso do piloto. O conceito da GSX-F ( Suzuki) projeta-se para uma característica sporturing. Esta característica nos faz lembrar das CBR XX, das GSX 1300 Hayabusa, das antigas e fabulosas CBR 1000 F e de muitas outras que nos remete ao conforto e ao mesmo tempo as emoções das esportivas, fazendo curvas no limite das pedaleiras e freando espetacularmente. Meu primeiro erro: NÃO considerar este conceito para a GSX-F. Ela é uma excluva moto sport-turing. Mais turing do que sport. Seu chassi denuncia isso.
O segundo aspecto técnico que observo, são os pneus. Precisamos considerar três coisinhas básicas nos pneus: 1- seu perfil se é reto ou abaloado. 2- sua largura em milímetros, com o detalhe das "bordas de ataque"e 3- seu composto de borracha ( mais difícil de analisar). Assim sendo, o meu segundo erro foi NÃO considerar estas três coisinhas básicas.
Antes de iniciar os treinos de curvas, eu deito a moto ( ela parada) até o limite de segurança de moto. Este limite de segurança verifica-se pela"borda de ataque" dos pneus, ou seja, até que ponto a moto pode inclinar nas curvas com segurança, sem considerar a influência do peso do piloto. Geralmente, esta inclinação chega até o limite físico ,ou seja, nas pedaleiras. Meu terceiro erro foi NÃO considerar o limite de segurança do pneu traseiro. Eu inclinei e não chegou as pedaleiras. O perfil do pneu da GSX-F é pouco abaloado. Sua largura, para uma 750 ( não para uma sporturing) é de apenas 150 mm. E seu composto de borracha, não sei dizer ao certo, porém, nos testes de frenagem ela escorregou ( saia de frente) a 40 km/h. Meu quarto erro foi NÃO considerar este "sinal" de "sair de frente" nas frenagens frontais.
É incrivel eu NÃO considerar tudo isso! É inacreditável eu acreditar somente em minha experiência. É ainda pior eu colocar em risco a integridade física e, porque não dizer, a vida de alguém que depositou toda a fé em mim. A do Joel.
Este tombo foi nos exercícios de curvas. Inclinei a moto até o limite físico da moto, encostando as pedaleiras no chão de tal forma que o asfalto ficou marcado pelo aço das pedaleiras. Ultrapassou o limite de segurança ,ou seja, as bordas de ataque do pneu. Acreditei no peso do garupa e do piloto. Mesmo com os corpos retos ( influência do peso) sobre a moto, e mesmo depois de várias voltas, sem escorregar, o pneu super aqueceu, não dobrou o suficiente para aumentar a aderência e, assim, splesh. Lá vai o Amaral e o Joel ao chão. Graças a Deus o Joel não sofreu machucados. Jaqueta e calça jeans salvou sua pele. Se não fossem os 'sliders' na carenagem da GSX-F, também a moto não sofreu muitos danos. Espelho, tampa do motor inferior alguns arranhões. Slider esguerdo torto e um susto de arrepiar.
A GSX-F é uma moto linda e feita para desfilar. Meu erro foi confundir que, só porque é uma 750, com designer esportivo ela pode deitar, correr, frear como se fosse uma autêntica esportiva.
Joel, por favor, aceite minhas desculpas. Não fui humilde em acreditar nos limites da máquina. Obrigado por sua confiança. Agradeço ainda mais por me ensinar a ser gentil, humilde e de ser um cavalheiro, pois, mesmo com esta "gafe" você continuou confiando em mim.