Fernando, com sua VFR 1200 X. O motor não "apaga" em rotações menores. Sem medo de cair em curvas mais fechadas. |
Ela está inserida na categoria das Big Trails.
Bem, o objetivo deste texto é dar ao leitor uma visão mais
detalhada sobre o funcionamento desta inovadora tecnologia, até porque ficaria
difícil entende-la dando uma pequena voltinha na moto de um amigo, ou mesmo
fazendo um rápido teste ride.
Em pouco mais de um mês já rodei 4.000 Km, por ruas,
estradas, no autódromo de Piracicaba, e também arrisquei um pequeno passeio em
uma estradinha de terra batida.
A transição da moto de câmbio mecânico para a automática é
um tanto complicada, notadamente porque durante um bom tempo ainda ficamos
procurando a alavanca da embreagem e o pedal do câmbio manual.
Acho que levei uns 1.500 km para conseguir pilotar com mais
naturalidade, para perder o costume de
controlar as mudanças de marcha, para
perceber que a moto tem o seu “jeitão” peculiar, enfim, para mudar meu estilo
de pilotagem.
Sem pedal de câmbio |
Mas, depois que me rendi a ela, que entendi “sua forma de
ser” e acostumei com a novidade, posso dizer: este câmbio automático é
fantástico!!!!!
A experiência que temos com carros automáticos não se aplica
integralmente à pilotagem da Crosstourer, que vai muito mais além, bem assim,
tal tecnologia em nada se compara aos câmbios do tipo CVT usados nas scooters
em geral.
A transmissão da Crosstourer possui três modos de funcionamento:
dois totalmente automáticos (o “D” — dynamic — que encurta as marchas, e,
portanto, permite uma condução mais econômica; e o “S” — sport — para uma
pilotagem mais esportiva, que estica as marchas); e um modo de seleção manual de seis
velocidades, que dá total controle ao piloto por meio de comandos eletrônicos.
Sabe o tiptronic existente nos automóveis? Ele mesmo!
A troca da pilotagem manual para a automática — e vice versa
— se dá com o acionamento de uma pequena alavanca ao alcance do indicador da
mão direita, que pode ser ativada com a moto em movimento. Muito simples e,
melhor, sem comprometer a segurança e a atenção do piloto!
O modo “D” se mostrou o mais adequado para a condução em
pisos molhados ou no off road, pois
deixa a moto mansinha.
Posso afirmar que a “terra” não é o destino dela —
principalmente em face de seus quase 300 Kg em ordem de marcha —, embora sua
suspensão e rodas sejam apropriadas para tais terrenos. Quando muito, uma
estradinha de terra batida!
Fora isso, tenho dó de colocar uma moto desta para
chacoalhar naquela buraqueira!
Pirelli Scórpion, muito bom, no asfalto |
Para as demais conduções, seja na cidade ou estrada, prefiro
o modo “S”, que deixa a moto mais firme, mais na mão, embora comprometa um
pouco sua economia, o que, diga-se, não é seu forte!
Vale ressaltar, ainda, que não é necessário desacelerar a
moto para subir as marchas — ainda que estejamos pilotando no modo manual —, o
que contribui para a manutenção de rotações uniformes. No início pareceu
estranho, mas logo me acostumei.
Assim, se bater uma saudade de cambiar a moto, ela pode ser
pilotada somente no modo manual, mediante o acionamento das “borboletas”
existentes do punho esquerdo. Com o indicador aumentamos as marchas e com o polegar
reduzimos . Simples assim!
Outra coisa interessante: mesmo que ingressemos na “faixa
vermelha” do conta-giros na pilotagem manual, não há corte de giro, pois a
Crosstourer troca para a marcha imediatamente seguinte. Talvez haja corte de
giro quando o limite de rotação for ultrapassado em 6ª marcha, mas, confesso,
ainda não tive coragem para testar isso...
Estas “borboletas” também podem ser acionadas para
personalizar a condução enquanto pilotamos no modo automático.
Explico: se em uma determinada situação o piloto desejar dar
seu toque pessoal reduzindo a marcha, é só triscar com o polegar na
“borboleta”, e, voilá!, a moto reduz a marcha imediatamente, e de forma
sequencial, quer dizer, embora acionemos tal botão duas vezes seguidas — ou de
forma mais demorada —, somente haverá a redução de uma marcha por vez.
Mesmo com esta interferência, a máquina não sai do modo de
pilotagem automático, pois, após esta intervenção do piloto, ela segue
realizando as trocas normalmente.
Mas, para garantir a segurança e dirigibilidade, a moto
também avalia algumas situações e, eventualmente, impede a atuação do piloto,
como, por exemplo: se estivermos pilotando em 5ª marcha, com 3.000 giros, sem
estar acelerando, e tentarmos acionar a “borboleta” para passar para a 6ª
marcha, ela não atende ao comando do piloto, mantendo a 5ª marcha, pois, caso
contrário, o motor ficaria “chocho”, o que seria perigoso, notadamente em uma
curva.
Nas ultrapassagens — ou em outras situações em que
tencionemos aumentar repentinamente a velocidade — é só enrolar o cabo e a moto já reduz a
marcha automaticamente — uma ou até duas marchas, conforme o caso —, garantindo
uma rápida e perfeita transferência de potência e, assim, permitindo uma
manobra segura.
Sempre que qualquer alavanca de freio é acionada de forma
mais incisiva — entenda que não é qualquer leve acionamento de freio —, há uma
redução de marcha.
E não é uma redução de marcha normal, como a dos carros,
pois a eletrônica da moto eleva a rotação do motor — sabe aquela aceleradinha
que damos nas motos mecânicas antes de reduzir uma marcha? Pois então, ela
mesma — e na sequência espeta a marcha inferior, de forma sequencial.
Enfim, parece que há um japonesinho escondido atrás da
carenagem avaliando todas as condições da pilotagem, e atuando ativamente na
sua condução, e, diga-se, este japinha pilota muito bem...
Outra característica interessante é a dupla embreagem — DCT
- Dual Clutch Transmission —, que, juntamente com a transmissão por cardan,
proporciona trocas de marchas suaves, rápidas e precisas. Quase nem se percebe a troca de marcha, que
fica indicada no painel.
Em termos práticos, ela possui uma embreagem para as marchas
pares e outra para as ímpares e isso, somado com a análise eletrônica da
condução, com o eixo cardan, e com o controle de tração, faz muita diferença,
eliminando aqueles “tranquinhos” na troca das marchas.
Assim, quando estamos em 4ª marcha, e acelerando, a moto
entende que desejamos evoluir, e, então, já posiciona previamente a embreagem
das marchas ímpares na 5ª marcha, de sorte que a troca se dá de maneira bem
suave, rápida e muito eficiente.
Todavia, se estamos na 4ª marcha, e desacelerando, ela
posiciona a outra embreagem na 3ª marcha, e a redução também se dá de forma
suave, no tempo certo, com direito àquela mesma aceleradinha prévia antes de
engatar a marcha reduzida.
Segurança nas re-acelerações em saídas de curvas, graças a tração eletrônica |
O controle de tração — TCS —, que pode ser desligado, e os
eficientes freios C-ABS também contribuem para a segurança do piloto, e para
uma estabilidade absoluta, quer seja em retas ou curvas de alta e de baixa
velocidade.
A possibilidade de inclinação da moto chegou a me
impressionar, principalmente por conta de sua altura e peso. Nasceu para fazer
curvas, com segurança e grande facilidade! As duas pedaleiras já estão
raspadas!!!
Vale destacar que, em qualquer situação, a eletrônica da
moto avalia as condições de pilotagem para decidir como ativará seus controles,
levando em conta se estamos acelerando ou freando, se a moto está inclinada ou
“em pé” se a rotação do motor está subindo ou descendo e etc. Ou seja, ela
“pensa” como um piloto de motocicleta e não como um motorista de carro!
Além de todas as peculiaridades acima, digo ainda que a
ciclística, a posição de pilotagem, o guidão largo, os protetores de mão, a
baixa vibração, o para-brisa grande, e o banco macio e espaçoso ocasionam um
conforto invejável, permitindo a realização de longas viagens sem esgotamento,
sendo certo que ela também circula bem pela cidade!
Para quem gosta de ficha técnica, vão algumas informações:
motor é V4, quatro tempos, refrigeração líquida, tem 1.236,7 cm³, potência
máxima está em 129,2 cv a 7.750 rpm, torque em 12,8 kgf.m a 6.500 rpm, discos
de freio duplos na frente com rodas de aro 19’, e simples atrás, com rodas,
também raiadas, aro 17’ na traseira, tanque de 21,5 l e
preço de R$ 79,900,00.
Mas é necessário ter em mente que, em se tratando de uma
moto muito potente, grande e pesada, ela exige experiência e um bom domínio de
técnicas de pilotagem para que sua condução se torne segura e prazerosa, isso
sem falar no uso de equipamentos de segurança, e muita atenção ao pilotar."
Texto e avaliação: Fernando Moreno Del Debbio. Advogado por profissão, motociclista por opção!
Fotos: Geórgia Zuliani e uol.com
Parabéns Fernando, seu texto é exatamente como os amantes do motociclimo querem, aponta os pontos que realmente nos interessa.
ResponderExcluirParabéns meu amigo!!! Belíssimo texto! Abraço e muito sucesso com a máquina! Fabio Mariani.
ResponderExcluirExcelente texto Fernando
ResponderExcluirObrigado pelos elogios carinhosos. Que bom que gostaram!!!!
ResponderExcluirAmanhã quando não quiser mais advogar, poderá tranquilamente se dedicar ao jornalismo esportivo e técnico. Parabéns pelo ótimo texto! Completo!
ResponderExcluirObrigado Paulo pelo elogio carinhoso, que é mais fruto de nossa amizade que da realidade!!!!!!!
ExcluirParabéns pelo texto, você fez o que nenhuma publicação fez sobre esta moto, falar do funcionamento do câmbio com tamanha precisão.
ResponderExcluirNum futuro, depois que eu engordar uns 30 porquinhos, comprarei uma!
Grato pelo incentivo!!!!
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